MEMÓRIA. Robert Stern não era um inovador. Mas deixou sua marca em NYC

MEMÓRIA. Robert Stern não era um inovador. Mas deixou sua marca em NYC
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Robert A.M. Stern, o arquiteto nova-iorquino que construiu museus, escolas, casas e bibliotecas com pouca repercussão para além de seu meio profissional até ganhar reconhecimento internacional, já como veterano, ao projetar o que se tornou o edifício mais caro com vista para o Central Park em Manhattan, morreu em 27 de novembro em sua casa em Manhattan. Ele tinha 86 anos.

Seu filho, Nicholas, disse que a causa foi uma rápida doença pulmonar.

Como muitos dos edifícios residenciais mais elegantes de Nova York, a criação máxima de Stern — inaugurada em 2008 e aclamada como um renascimento que trazia de volta o luxo do período Pré-Guerra — ficou conhecida apenas por seu endereço, 15 Central Park West. 

A construção consistia em duas estruturas revestidas de calcário: uma fachada de 19 andares voltada para o parque, com os recuos escalonados de uma fachada dos anos 1920, e atrás dela, uma moderna torre de 35 andares com vistas deslumbrantes da cidade.

Os prédios são conectados por um lobby circular com cúpula de cobre coberta em vidro e uma “porte-cochère” – a área de entrada circular para veículos.

Vindo da prancheta de um arquiteto de edifícios tradicionais que incluíam alojamentos universitários e tribunais, seu condomínio no parque era uma incomum conexão entre a grandiosidade do passado e as linhas limpas de um arranha-céu ultramoderno. Suas instalações luxuosas também refletiam as de uma era mais glamourosa, deslumbrante até mesmo para os experts mais exigentes da área.

“Foi meu primeiro sucesso,” disse o arquiteto de 84 anos em uma entrevista para este obituário. “Eu ainda não uso computador. Eu desenho tudo à mão.”

Críticas positivas atraíram uma horda de celebridades para o 15 CPW, como ficou conhecido o prédio, ofuscando a concorrência das torres de vidro elegantes que eram moda na Manhattan do início do novo milênio. Algumas das pessoas mais ricas do mundo possuíam seus “ninhos nas nuvens,” embora muitas os usassem apenas por algumas semanas ao longo do ano.

Stern convenceu os incorporadores, Arthur e William Lie Zeckendorf, que o que a cidade precisava, e o que realmente venderia, era um edifício de luxo que parecesse as “matronas” arquitetônicas que ladeavam a Quinta Avenida e a Park, onde as tradicionais famílias ricas viviam em meio ao esplendor do período pré-Segunda Guerra, com bibliotecas revestidas de painéis de madeira, salas de jantar formais, até oito quartos e adegas. No 15 CPW, Stern replicou isso e adicionou salas de cinema privadas, uma piscina de 23 metros, uma sala de espera para motoristas — e um algo a mais.

“Os Zeckendorfs descobriram que nada atrai mais as pessoas, especialmente as ricas, como algo novo que não pareça muito novo,” escreveu na Vanity Fair o crítico de arquitetura da New Yorker, Paul Goldberger. “O que Stern projetou, na verdade, foi um edifício no qual cada apartamento parecia um apartamento antigo da Park Avenue depois de uma reforma.”

Todos os apartamentos no 15 CPW foram vendidos antes do final da obra, e a preços mais altos do que qualquer edifício novo na história da cidade até aquele momento. A lista de compradores incluía Sting e Denzel Washington, o locutor esportivo Bob Costas, o produtor de televisão Norman Lear, o magnata bancário Sanford I. Weill, e uma série de donos de hedge funds. As vendas ultrapassaram US$ 2 bilhões.

Para Stern, com quase 70 anos na época, foi o ápice artístico de sua carreira, a realização do seu sonho de fundir o passado e o presente. O sucesso também rendeu grandes lucros de publicidade, impulsionando sua carreira a novos picos uma década depois, quando ele construiu vários arranha-céus residenciais em Manhattan.

Stern era um homem pequeno e magro, com uma voz aguda e uma energia acompanhada de impaciência que atraía a atenção em uma sala de aula ou em uma reunião de vendas. Ele conhecia quase todos no mundo da arquitetura e no setor imobiliário de Nova York. Suas marcas registradas eram as meias amarelo-manteiga e os lenços de bolso, usados com loafers de camurça e ternos sob medida com riscas de giz.

Em uma carreira de meio século, Stern fundou sua própria empresa em Nova York, empregou centenas de arquitetos e projetou casas, locais de trabalho e edifícios comerciais e institucionais para centenas de clientes no país e no exterior. Também lecionou em Columbia e Yale, onde liderou a Escola de Arquitetura de 1998 a 2016.

Apesar de todas as suas realizações, não chegou a ser um nome conhecido por um estilo arquitetônico distinto e próprio e, mantendo respeito pelas tradições, não chegou a ser um inovador. Seus trabalhos eram em grande parte comerciais e institucionais: hotéis, comunidades planejadas e muitos dormitórios. Com poucas demandas na cidade de Nova York, seu trabalho inicial consistiu principalmente em casas particulares nos Hamptons e no Condado de Westchester, no estado de Nova York.

Mais tarde, ele projetou os resorts do iate e do clube de praia da Disney World na Flórida, o Centro Presidencial George W. Bush em Dallas, a Escola Gerald R. Ford de Políticas Públicas em Ann Arbor, Michigan, o Comcast Center, de 58 andares, e o Museu da Revolução Americana, ambos na Filadélfia.

Como professor, ele se manteve aberto a muitos estilos arquitetônicos — uma abordagem que, segundo os críticos, não aparecia em seu próprio trabalho. O que ele chamava de estética “moderna tradicional” em seus edifícios agradava a gostos de maior discrição e dignidade em um negócio que está sempre em busca de novas ideias chamativas.

Stern se interessava por ideias mais tradicionais e discretas. Ele foi um dos primeiros expoentes do pós-modernismo, que defendia que, em vez de tentar inventar um novo estilo estético do zero, os arquitetos deveriam olhar para a história em busca de inspiração. Ele argumentava que a arquitetura tinha a responsabilidade de colocar a função antes da forma e atender às necessidades dos clientes, em vez de chamar atenção para si mesma.

“Muitas obras Modernistas de nosso tempo tendem a valorizar a auto-importância do próprio objeto, e essa é uma verdadeira objeção que tenho,” disse ele ao The New York Times em 2007. “Edifícios podem ser ícones ou objetos, mas eles ainda precisam se engajar com o todo maior. Eu não sou considerado avant-garde porque eu não sou avant-garde. Mas existe um mundo paralelo por aí — e de excelência.”

Nas décadas de 1970 e 1980, seu conceito unificador era adornar os edifícios clássicos modernos com detalhes do passado: cornijas, frontões, arcos e outros toques de luxo do período pré-guerra. No entanto, na década de 1990 ele abandonou a ideia de enxertar pedaços e peças do passado em seus novos edifícios. Em vez disso, adotando uma mudança radical que ele ainda podia chamar de tradicional, começou a projetar edifícios inteiros para refletir o espírito do passado.

“Ele descartou a ideia de pastiche em favor de replicar modelos do passado de forma mais direta,” disse Goldberger em um artigo de 2007 na The New Yorker, antecipando a inauguração do 15 CPW. “Stern é ótimo em se encaixar no contexto: sua escola de negócios na Universidade da Virgínia é puro Thomas Jefferson; seu Museu Norman Rockwell em Stockbridge parece uma clássica casa de reuniões da Nova Inglaterra; ele fez casas amplas no estilo Shingle Style em East Hampton e casas coloniais espanholas na Califórnia. Stern sabe fazer um edifício como o 15 Central Park West melhor do que ninguém.”

O projeto era arriscado. Os Zeckendorfs pagaram US$ 400 milhões em 2004 pelo terreno, um quarteirão delimitado pela Broadway, pelas ruas 61 e 62 e pela Central Park West, e estavam apostando na ideia de que recriar um antigo edifício de apartamentos de Manhattan era mais do que apenas o sonho de um arquiteto.

Desde o lançamento, os preços no 15 CPW dispararam. Daniel S. Loeb, dono do hedge fund Third Point, comprou uma cobertura por US$ 45 milhões, o valor mais alto já pago por um apartamento na cidade até então. E o frenesi de compra continuou por anos. Os preços subiram para US$ 88 milhões por uma cobertura revendida em 2012.

Em 2013, Justin Davidson, crítico de arquitetura da revista New York, colocou o trabalho de Stern em um pedestal elevado, escrevendo: “Ao mesmo tempo em que tanto da nova arquitetura residencial tem desgastado a textura de Nova York, transformando uma cidade de pedra em uma metrópole de vidro, os edifícios de Stern exercem uma fricção silenciosa contra a mudança — ou pelo menos contra essa mudança barata. Ele ajudou a moldar a constante auto-invenção da cidade, defendendo seus dias de glória.”

Robert Arthur Morton Stern nasceu em 23 de maio de 1939, no Brooklyn, o mais velho dos dois filhos de Sidney e Sonya (Cohen) Stern. Seu pai vendia seguros, administrava uma loja de ferragens e dirigia um táxi. Sua mãe vendia porcelana na loja de departamentos B. Altman em Manhattan.

Na antiga Escola de Treinamentos Manuais no Brooklyn, Robert se destacou em Latim, Geometria e Trigonometria, e se interessou por teatro e mercado imobiliário. Ele adorava caminhar por Manhattan e se maravilhava com os edifícios clássicos das décadas de 1920 e 1930. Antes de se formar em 1956, ele passou a vislumbrar uma carreira em arquitetura.

Columbia College não tinha um programa de Arquitetura na graduação, então ele se formou em História e recebeu um diploma de bacharel em 1960. Ele obteve um mestrado em arquitetura em Yale em 1965. Após um ano como curador na Architectural League de Nova York, trabalhou para o arquiteto Richard Meier e para a Corporação de Preservação e Desenvolvimento Habitacional da cidade no mandato do prefeito John V. Lindsay.

Em 1966, Stern se casou com Lynn Solinger, uma fotógrafa de belas-artes cujo pai era presidente do Museu Whitney; eles se divorciaram em 1977. Além de seu filho, Nicholas, Stern deixa seu irmão, Elliot, e três netos.

Em 1969, Stern e um amigo de Yale, John Hagmann, abriram um escritório de arquitetura em Nova York que funcionou por oito anos. Em 1970, ingressou na Escola de Pós-Graduação em Arquitetura, Planejamento e Preservação da Universidade Columbia e dirigiu seu Centro Temple Hoyne Buell para o Estudo da Arquitetura Americana de 1984 a 1988.

Em 1977, ele fundou a Robert A.M. Stern Architects, que empregou uma equipe de até 300 pessoas. Suas honrarias incluíram o Prêmio Vincent Scully em 2008, o Prêmio Richard H. Driehaus em 2011 e o Prêmio Louis Auchincloss em 2019.

Stern morava no Chatham, um edifício de condomínio de 32 andares em Manhattan que ele mesmo projetou, e tinha uma casa, também de seu próprio design, em East Hampton, Nova York. Ele escreveu ou foi coautor de mais de uma dúzia de livros sobre arquitetura, incluindo uma história enciclopédica de seis volumes da arquitetura da cidade de Nova York desde a Guerra Civil até as décadas recentes.

Ele também escreveu uma autobiografia, Between Memory and Invention: My Journey in Architecture (Entre Memória e Invenção: Minha Jornada em Arquitetura). Em 1986, apresentou um documentário de oito partes da PBS, Pride of Place: Building the American Dream.

Stern foi personagem de livros e artigos que nos últimos anos o apontaram como um dos arquitetos mais ricos do país. Suas torres residenciais em Manhattan incluem o 220 Central Park South, de 70 andares, onde um triplex foi vendido por US$ 238 milhões em 2019, e o 30 Park Place, de 82 andares, onde um filho de um dos homens mais ricos do mundo, Bernard Arnault, comprou uma cobertura de meio andar por US$ 18 milhões em 2023.

No início de novembro, Stern refletiu sobre sua adolescência enquanto caminhava por Lower Manhattan e observava a beleza que encontrava no nível da rua. “Claro, eu amava o topo dos edifícios,” disse ele ao Times, “mas eu amava de verdade suas bases: as grandes entradas, os ricos mármores e granitos.”

Os pedestres de hoje estão com os olhos colados em seus telefones, lamentou ele. “Você não está mais olhando ao redor,” acrescentou. “Quando eu estava crescendo, tudo o que eu fazia era olhar ao redor.”

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times e está sendo republicado sob licença.

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