Imigrantes ganham espaço nas obras

Com a escassez de mão de obra nos canteiros, tem aumentado o número de imigrantes na construção civil no Brasil, num movimento similar ao que o setor já vive nos Estados Unidos desde o século passado.
As construtoras estão recorrendo mais aos estrangeiros para tentar compensar o maior desinteresse dos brasileiros por trabalhos como os de pedreiro e servente, já que os mais jovens estão alcançando níveis maiores de instrução e tendo acesso a empregos menos braçais.
O movimento ganhou força à medida que mais estrangeiros chegaram ao País em busca de renda e estabilidade e encontraram na construção civil uma porta de entrada rápida para o mercado formal.
“De uns dois anos para cá o número de imigrantes nos canteiros tem aumentado muito. É perceptível,” Yorki Estefan, o presidente do Sinduscon-SP, disse ao Metro Quadrado.
Além da maior oferta de cursos profissionalizantes que criam oportunidades para empregos mais qualificados, os brasileiros também têm aderido a trabalhos que cresceram por meio de aplicativos como Uber e Ifood, que oferecem mais autonomia e exigem menos força física.
E ainda há ainda o efeito do aumento do valor do Bolsa Família que afetam a dinâmica de trabalho em regiões mais pobres.
Diante desses fatores, é comum ouvir entre incorporadoras que os filhos dos pedreiros não estão virando pedreiros, abrindo espaço para os imigrantes.
No Brasil, o total de estrangeiros empregados em todos os segmentos mais do que dobrou nos últimos cinco anos, passando de 182.995 para 396.660, de acordo com dados do Ministério da Justiça.
Só na construção civil, o ritmo de expansão foi parecido, saindo de 11.328 trabalhadores estrangeiros em 2020 para 26.591 em 2025.
Os venezuelanos puxam a expansão no setor, passando de 2,5 mil trabalhadores em 2020 para mais de 14 mil em 2025.
Os haitianos também se destacam. Eles chegaram a liderar esse movimento em 2020 com 5,8 mil trabalhadores na construção, e aparecem com cerca de 4,4 mil em 2025.
“Nós conseguimos perceber que há uma diferença de vontade de agarrar essa oportunidade, pela dificuldade que sofreram na vida, de ter que sair do seu país,” disse Yorki.
A lógica lembra movimentos migratórios antigos que marcaram a construção civil, como o fluxo de nordestinos para os grandes centros ao longo do século 20.
Assim como naquele período, muitos imigrantes chegam sozinhos, se estabilizam financeiramente e depois trazem a família, criando uma rede que retroalimenta a oferta de mão de obra.
Algumas construtoras têm fechado parcerias diretas com organizações que fazem a indicação de imigrantes que precisam de trabalho.
É o caso da Tenda, que desde 2021 possui um programa de capacitação voltado para estrangeiros.
Hoje, a companhia já têm mais de 500 imigrantes em seu quadro de trabalhadores – cerca de 17% da força ativa nas obras da companhia.
Eles vêm de 13 nacionalidades e estão distribuídos por sete estados do País, ocupando principalmente funções de entrada nos canteiros.
“A carreira da construção civil é um bom motor de recomeço. Mesmo que não seja o fim da carreira, eles ingressam no mercado formal e colocam renda em casa,” disse Lucas Moura, gerente de responsabilidade corporativa da Tenda.







